sábado, 24 de agosto de 2013

Zé da Quebrada



Zé da Quebrada, aquele que morava na ladeira. 
 Sim. Ele mesmo. Não sabe o que aconteceu?
Tentou o futebol quando garoto, mas por causa da mãe que ficou doente ele teve que trabalhar bem cedo na vida. Pai nunca soube quem era, mesmo assim ele não desistiu. Talvez o problema do Zé fosse esse - não desistir de encontrar saídas, mesmo quando tudo está difícil.
Com os problemas da mãe e as visitas ao Hospital do Câncer, o patrão do Zé não tolerou os atrasos, faltas, e mandou o sujeito embora – demitido.
Zé arrumou um trabalho de entregas numa farmácia depois que a sua mãe foi morar com Jesus e conheceu a Larissa, com quem se casou e teve um guri, o Zezinho. Só que Zé não virou balconista e nem pensava muito em ser. Não teve estudos e o pior que não acreditava em si. Não procurou e não incentivaram como tantos. Claro que, com essa garra toda, ele iria se dedicar a uma oportunidade que lhe dessem. Mas ele só abraçava as chances que estavam em sua linha de visão e não aprendeu que certas tantas outras ficam atrás das portas da vida.
Larissa trabalhava também, diarista, mas foi ficando de saco cheio dessa vida. Não era como na novela. Como era bom se tivesse um tiquinho de conforto. Talvez um pouco mais que esse tiquinho a fizesse feliz. Talvez mais um pouco e um pouco mais rapidamente de conforto. E em poucos anos a insatisfação surgiu durante o prazo de validade do Zé. Inconformidade já batia na porta daquele lar. Larissa queria um novo príncipe e tudo que o dinheiro pode dar, pelo menos um com carro do ano, melhor que o Zé que só tinha uma bicicleta de entregar remédios.
Zé começou a perceber que lá na comunidade estavam crescendo o olho pra sua Cinderela e tratou de aceitar a proposta do Digão, o colega da farmácia metido malandro: vender remédio como camelô. Só que seriam os remédios da farmácia mesmo.

Se o negócio deu certo? O dinheiro em casa imediatamente. Larissa pouco queria saber de onde vinha, só bastava tirar uma de senhora madame no shopping esfregando na cara das amigas que bastava pressionar um pouquinho que o homem vende a alma pra não perder a mulher.

Uma semana durou o esquema. Nem um dia a mais. Pro Zé da Quebrada era dinheiro e trabalho - Todo mundo ganha algum dando um jeitinho. Não é droga. É remédio – pensava ele. Pro Digão, o Zé era um laranja que ganhava dinheiro pra ele. Pra Larissa... Bem... Não era.  Pra polícia o chefe da quadrilha de roubo de medicamentos. Pra imprensa um prato cheio que só ficaria saboroso até aparecer outra notícia. 

Zé da Quebrada foi preso estampando sua cara nas páginas dos jornais e programas de crime na TV. Sua agora ex-mulher deu entrevistas exibindo um generoso decote e se mostrando como uma mulher que sofria maus tratos do inofensivo Zé. Ela sonhava que algum diretor de novela a visse e a escalasse para a próxima novela da noite por sua "excelente" atuação. O Digão acabou ficando famoso dizendo que o Zé era um mafioso internacionalmente procurado. O que lhe rendeu até uma proposta de escrever um livro. A imprensa não acreditava, mas como o povo engolia a história foi bem maquiada para dar um bom material e acalmar as redações sedentas de notícias.  
Zé da Quebrada hoje cumpre pena em Bangu. Se dá bem com todo mundo: carcereiros, presos e até o diretor. Até seus colegas sabem que houve muito exagero. Ele quer cumprir a sua pena pelo crime que cometeu, sabe que vendeu roubo, e depois quer recomeçar sua vida longe de Larissa, longe de amigos de copo, longe da cidade grande que devora sem se perceber. Quer no fundo mesmo deixar alguma coisa para seu filho Zezinho. É pedir demais?

autor: Marcos Costa


 Boa semana para todos.



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Velocidade da vida

Saindo do aeroporto rumo ao Centro da Cidade.
Pessoas de vários lugares se encontram ali.
A mãe que veio conhecer os netos
Vejo todos se abraçando.
Lágrimas que escorrem daquela senhora frágil, mas cheia de experiência de vida.
O jovem rapaz que espera a amada
Aquela que veio de outro Estado
Como ele treme ao vê-la sorrir, largando as malas e indo em sua direção.
A criança que pergunta ao avô o que ele trouxe de presente dessa vez.
Só interesse. O mais puro por sinal, que deveríamos manter no coração até uns 100 anos.
Lindo de sentir mesmo atrás da minha janela em movimento.

O táxi leva ao meu destino.
Sigo a avenida principal aonde os prédios vêm me saudar
Seria um “oi ” ou “seja bem vindo”?
Os arranha-céus ficam em silêncio e nada respondem
Mas eu vou
Vou olhando o parque à direita lotado de pessoas que o atravessam
Entre bancos com mendigos dormindo e a moça procurando emprego no jornal, vejo
Sem olhar a natureza ao redor
Com quem eles se preocupam?
Será que amam alguém?
 Na esquerda os passantes atravessam o semáforo se chocando uns nos outros no calor da tarde.
Uns rumam ao relógio da Central, outros enfiam-se no metrô ou em ônibus cansativos.

A cidade os engoliu e cada um acha que tudo ali pertence a um indivíduo e não ao  coletivo.

Que tristeza.
Com quem eles se preocupam?
Será que amam alguém?
Não posso culpar a cidade e seus cachos de pessoas
Que se despencam, vivem, vegetam e morrem vivos ainda
Pois já vivi assim
Já atravessei a corda dos medos
Dentes sempre trincados e olhar agressivo, porém vazio.
Colocando a minha culpa nas pessoas ao invés de admiti-las.

 Enfim o Centro da Cidade
As ruas não se comparam a outras grandes metrópoles
Mas me abraçam assim como a mulher amada
Que me recebe num beijo de saudade e me pergunta o que vi de novo.
Respondi: - A velocidade da vida, meu bem. Maior que a da luz.

Marcos Costa.


Olá. Depois de um breve-longo período de ausência por "n" motivos, estamos de volta. 
Planos e projetos se realizando, mas o blog não será desativado. Mesmo sem novas postagens chegamos a ter mais mil acessos a mais. 

Que bom! Pessoas me perguntavam sobre as novas postagens e amigos de verdade sugeriram várias coisas, que colocarei futuramente. 

Saiba que o Blog pertence a você, amigo. 
Boa semana pra todos.