Por volta dos vinte e poucos anos, através de um grande amigo, passei uma noite ouvindo músicas ao vivo, voz e violão, em um terraço num bairro da minha cidade. Eramos jovens, cantando em roda, conhecendo amigos de outros amigos e ao final, já quase de manhã, limpávamos o local para não deixar a sujeira para aquela família que nos acolheu. Outras noites aconteceram e fizeram dessa época um marco na minha vida. Essa experiência criou a rara oportunidade, naquela época, de uma conversa informal com os pais de amigos. Não havia uma armadura de respeito, herança da rigidez, e sim um sorriso de franqueza.
Seu Jorge era o guardião dessa família. Raramente vi seus olhos claros e emocionados com expressão de revolta. O seu sorriso iluminador era o simbolo de seu bom humor nas nossas conversas, mas que também tinha opinião e expressava com personalidade forte. Seu Jorge teve dificuldades para construir uma vida, mas tudo isso ficou pra trás com o amor que sua família lhe deu em vida.
Seu Jorge se foi e imediatamente o que "li" na sua vida foi: Dedicar-se sem limites ao que realmente vale a pena nessa vida curta. No caso dele foi o amor. Dedicou-se a sua família com todas as forças e foi muito feliz. Ele mostrou que é possível sim realizar seus sonhos. Mesmo lá nos anos que eu tinha cabelo, eu via a forma como Seu Jorge olhava emocionado para sua esposa e filhas. Como quem tivesse ali um tesouro imenso. Depois netas e por fim uma bisneta. Seu Jorge foi muito feliz e sua vida tem que significar algo para as novas gerações. Sei que ele não nos quer tristes, mas a saudade é algo inevitável não sentir.
Agora imagino ele, lá onde estiver, perto de São Pedro dizendo algo do tipo, com aquele humor:
- Opa, gente boa. Tá tudo muito bom por aqui, mas aonde é que eu encontro uma geladinha pra tomar com meus amigos?
Salve Jorge.
2 comentários:
Muito obrigada, Marcos, fui jogada de novo no passado. Lembro-me muito destes encontros com nossos amigos. Meu pai, minha referência.
Em nossas vidas conhecemos pessoas como o sr. Jorge e também pessoas que fazem o oposto e desequilibram a harmonia do mundo em que vivemos mas como ele disse, estamos aqui para aprender a dar valor ao que realmente temos de precioso e que riqueza material nenhuma pode substituir essas pessoas que gostamos tanto e enquanto estivermos por aqui, tentaremos fazer o melhor possível para ensinarmos e aprendermos as boas coisas que estão a nossa volta e até mesmo diante dos nossos olhos e não enxergarmos de modo algum mas sempre há tempo de aprender e querer aprender a melhorar o futuro de nossos filhos e filhas. Um bom futuro.
Ranieri Levy da Costa
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