- Tá bêbado.
Eis que acordo e lá estou. Esparramado de bruços no chão. Igual um ovo quebrado sob um sol de 38 graus. Sozinho. Meu corpo dormente, não conseguia se mover. A cabeça girava e doía. Sentia o cheiro da terra, da borracha de pneus, de algum alimento que um pedestre jogou ao chão. Só então ouvi mais um comentário. Soavam como metralhadoras.
- É epilético. Doente mental. Debilóide.
- Ladrão. Político. Artista querendo aparecer. Pegadinha da TV. Cadê a câmera escondida??
- É cracudo. Um drogado ou sem teto. Só tem isso no Rio de Janeiro. A cidade está cheia deles.
- Vamô enchê ele de chute. Tirar esse lixo daqui sujando nossa rua.
Já sentia o primeiro pé nas minhas costelas quando ouvi.
- Vejam. Não digam bobagem. Ele está bem vestido. Não é um vagabundo.
- Não. Coitado. É o coração. Ataque cardíaco.
Ouvia as pessoas falando, mas não podia reagir. Sequer responder. Só pensava com dificuldade. Havia outro cheiro. Era o cheiro de sangue que corria da minha testa e já passava pelos meus olhos.
O que me aconteceu? Um assalto? Onde estou? O que aconteceu? Não sou bêbado, epilético ou drogado. Pensando em encontrar uma resposta, para mim mesmo, e não encontro. Estou confuso.
- Já chamei a ambulância e os bombeiros - eu ouvi alguém gritar no meio do falatório que estava ao meu redor. Deveria ser uma multidão.
- Ele esta mexendo os olhos - ouvi uma mulher falando. Parecia jovem pelo jeito, tinha uma voz doce e agradável.
Agora me recordo. Estou na cidade, no centro. Tinha ela... Uma mulher. Sim. Estava com alguém, um pouco antes, que fazia parte da minha vida. Fazia?
- Vamos trabalhar gente. Ao invés de ficar olhando a desgraça alheia - disse um homem de cabelos grisalhos que tentava afastar as pessoas, até para que eu voltasse a respirar melhor.
Ele me fez lembrar que eu estava em uma entrevista de emprego. Um homem me contratou e eu fui encontrar alguém para comemorar. Sim. Sim. Era ela, a mulher amada que me deixou antes de eu lhe contar a notícia. Ela se foi e agora estou aqui no meio desses estranhos.
- Fique calmo. Sou enfermeira. A ajuda já está chegando - a moça jovem se aproxima. Já abro os olhos e a vejo agachada perto de mim.
Agora lembro. Saí pelas ruas transtornado, perambulando e perdido. Minha cabeça parecia explodir e no peito um vazio digno dos solitários. Então eu não havia me alimentado e com a bomba emocional de minha ex-namorada, foi o suficiente, minha pressão alterou e caí ao chão batendo com a cabeça no paralelepípedo.
- Que olhar bonito você tem - disse eu para a jovem enfermeira.
- Fique calmo - disse ela com um sorriso amável. - Por mais que as coisas fiquem feias, nós nunca estamos sozinhos.
A jovem enfermeira segurando minha mão. Juntos, trocávamos um olhar de esperança. Seria o futuro batendo à minha porta?
Autor: Marcos Costa.
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BOA SEMANA AMIGOS. FÉ E ESPERANÇA.
2 comentários:
Um excelente crônica! Que retrata com perfeição a nossa realidade.
Abraços,
Obrigado Professor. Foi uma idéia de um amigo, como o senhor, incentivador.
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