segunda-feira, 11 de março de 2013

MEDO DE SAIR DE CASA

 CRÔNICA


- Deixa de bobagem.

- Não. Não. Não vou no aniversário da Ana.

- Mas, Tadinha, pensa bem, mulher. Tu tá com mais de cinquenta anos e não faz mais nada de diversão...

- Olha só, Silvestre, vai lá e leva as crianças que eu fico em casa.

- Não sei mais o que fazer com você. Não sai de casa pra nada. Nem compras ou shopping.
Cinema então... Sou teu marido, Tadinha. Não me acompanha nem pra ir na casa de meus amigos. Um chopinho no galeto do seu Pereira... Nada. Faz um tempão que tu não visita minha mãe. Vocês se dão tão bem. Se não fosse isso a véia ia pensar que você não gosta mais dela.

- Silvestre, eu já fui no médico e não tenho problema algum. Apenas quero só ficar em casa. Cuido da família, da limpeza, da comida e sabe que trabalhar em casa dá muito trabalho. Você tinha que gostar, até.

- Tá demais essa sua onda de tartaruga. Você não é caracol, ostra, tartaruga, passarinho João de Barro ou qualquer coisa que fique trancafiada.

- Marido, marido... O mundo está violento. Sequestros, assaltos, crack na rua, religiões fanáticas, fora o risco de acontecer um acidente no trânsito... Um dia desses deu no jornal que um carro bateu em outro em movimento e capotou de um jeito que atingiu pessoas do outro lado da pista na calçada. Raios caindo nas tempestades e matando gente. Ruas alagadas nas chuvas que as pessoas precisam dos bombeiros pra sair de seus carros e casas.

- Credo, mulher. Não vou ficar aqui ouvindo isso. Tem vida lá fora. Chega. Paciência no fim. Fui. Vou pro aniversário da Ana com as crianças. Chega.

- Agora que estou só, posso ver minha televisão em paz. Aquele programa na Rede Continente vai falar das piores cidades brasileiras. Depois tomo meu chá de maracujá e vou dormir... Ué! Barulho na garagem. Pensei que o Silvestre já tinha ido. Não deu nem quinze minutos. Vou ver o que ele esqueçeu... Que??

Surge um homem magro, camiseta de time de futebol, dente faltando, cabelo raspado e com uma faca enferrujada nas mãos.

- É isso aí, dona. Tava esperando o coroa sair de casa pra entrar. Quem mandou ficar? É um assalto! Se comporta senão tu vai dançar. Aproveita e me dá um pedaço desse bolo que a senhora fez. Tô cheio de fome e meu expediente de roubar casas mal começou.



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BOA SEMANA AMIGOS

ATÉ SEMANA QUE VEM.


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